Resenha de "Justiça: o que é fazer a coisa certa?"

#Livros

Que livro, meus amigos! Que livro foi esse?! Meu objetivo neste artigo vai ser tentar explicar porque você e todos os cidadãos da Terra deveriam ler esse livro que uma vez lido jamais será deslido. Espero conseguir transmitir com vocês um pouco da minha empolgação com esta obra.

Leia imediatamente

“Justiça: O que é fazer a coisa certa”, escrito pelo filósofo e professor universitário americano, Michael Sandel, foi publicado em 2009 e traduzido para o portugês em 2011. Sandel já era famoso pelo seu curso online e gratuito sobre justiça (que eu ainda não assisti mas pode ser visto nesse link aqui) e que ajudou a inspirar o livro.

Pelo título você pode achar que trata-se de um livro sobre teoria do direito (e, portanto, chato), mas na verdade é um livro sobre filosofia política e filosofia moral. Sandel nos apresenta às três principais ‘escolas’ de filosofia moral: a ética utilitarista (ou consequencialista), defendida por Jeremy Bentham e Stuart Mill; a ética deontológica (também chamada de Kantiana), defendida principalmente por Kant mas que também influenciou muitos filósofos liberais como Rawls e Nocick; e a ética das virtudes, defendida por Aristóteles.

Todos os autores e filósofos citados acima são abordados no livro e suas filosofias são maestralmente discutidas. Sandel inclusive aproveita para explicar algumas concepções equivocadas dos princípios de Kant e de polêmicas como a de Aristóteles justificar a escravidão. O mais legal para mim foi ter sido apresentado á teoria ética das virtudes (Virthue ethics) que das três é a menos conhecida e debatida, por mais que implicitamente ela sempre esteja presente.

Cheio de exemplos e aplicações práticas

Ler esse livro foi como uma breve jornada pelo filosofia da moral. A cada novo tópico introduzido, Sandel apresenta exemplos como dilemas morais e até mesmo situações reais. Ele discute sobre o clássico problema do bonde (claro que não poderia ficar de fora o famigerado trolley problem), a missão israelense de resgate de judeus etíopes, um caso real de julgamento de canibalismo por necessidade (caso R v Dudley and Stephens), e muito mais.

Após ler esse livro você vai enxergar dilemas éticos do dia a dia com outros olhos e com muito mais profundidade.

Sandel também reproduz vários argumentos da vida real em seu livro. Ele cita várias falas de políticos do congresso dos EUA, cita falas de ex-presidentes americanos, e cita também várias manchetes de jornais. Sandel consegue muito bem trazer as discussões para os nossos problemas do dia a dia, deixando tudo mais interessante.

Cada argumento que Sandel expõe já vem seguido de suas objeções, todas com uma honestidade intelectual invejável. E com honestidade eu não digo que o autor tenta se manter neutro durante o livro, muito pelo contrário. Em muitos momentos ele deixa bem claro o seu posicionamento, alguns dos quais eu inclusive não concordo. Ele inclusive discute sobre essa falsa noção de que pessoas podem ser neutras em seus julgamentos e suas convicções.

As críticas de Sandel ao liberalismo

Além de teorias éticas, Sandel também discute duas filosofias políticas liberais: o liberalismo-igualitário, defendido por John Rawls, e o libertarianismo, representado no livro por Robert Nozick.

Rawls e Nozick

Mesmo sendo um dos maiores críticos do liberalismo do presente, acredito que Sandel faz uma apresentação muito honesta e acertada dos principios do liberalismo. Ele explica com muita dedicação a teoria de justiça de Rawls, explicando o véu da ignorância e os seus dois princípios fundamentais de justiça. Sandel também explica muito bem a visão de Nozick, inclusive citando o seu famoso “argumento de Wilt Chamberlain”.

Apesar de Sandel ser bastante crítico em relação a alguns pontos da teoria de justiça de Rawls, não tenho certeza se ele nega completamente o liberalismo. No livro Sandel se mostra um grande defensor da ética das virtudes mas demonstra respeito por aqueles que acreditam na filosofia da liberdade. Depois de ler eu fui pesquisar na literatura sobre os críticos de Rawls que costumam ser apelidados de comunitaristas. Entretanto, Sandel diz que não gosta de ser chamado assim pois o termo não é muito compatível com toda a sua visão política.

Aliás, quando comecei a pesquisar sobre os comunitaristas e suas críticas a Rawls eu descobri que a disputa realmente foi bastante acirrada por muito tempo. Após Rawls lançar seu livro, “A Theory of Justice”, boa parte da produção acadêmica da área nos EUA envolvia fogo cruzado entre liberais e comunitaristas.

Veredito

Acredito que esse livro é uma ótima introdução, bastante casual e prazerosa, ao estudo da ética. Durante a leitura já me senti extremamente motivado a ir ler as obras originais dos autores citados e mencionados, como Kant, Mill, Bentham, Rousseau, Nozick, Rawls, Platão.

Sinceramente, eu só senti falta de Sandel apresentar e discutir sobre as ideias do direito natural (jusnaturalismo) versus a concepção de direitos positivos. Mas enfim, após ler o livro recomendo ler por aí pela internet alguns materiais sobre isso.

Aliás, o objetivo desse livro não é esgotar o assunto, até porque a filosofia moral é gigante. O próposito é muito mais introduzir o assunto, suas principais correntes, e alguns dilemas e problemas atuais. Após a leitura você já terá bastantes tópicos para pesquisar e procurar ler mais sobre.

É isto. Este livro com certeza mudou a minha forma de pensar a política a partir de agora e está me estimulando demais a continuar lendo e estudando sobre filosofia moral. Estou com pena das pessoas proximas a mim pois elas não me aguentam mais falando 24 horas por dia sobre esse livro. No momento estou lendo a obra seguinte do Sandel, “O que dinheiro não compra”, e pretendo escrever outra resenha quando terminar.

Leu algum livro de Sandel e quer compartilhar o que achou? Me manda um email (filipe@mosquildo.com.br) com suas impressões que vou adorar ouvir. Posso passar horas discutindo as questões desse livro sem nem cansar.

Mas e você, mentiria para um assassino? (quem leu vai entender).

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